Nota introdutória
Neste ensaio, todos os trechos em destaque foram extraídos da obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal de Abdruschin. Os trechos retirados da Mensagem não têm a finalidade de ilustrar o texto, mas sim dá-se o contrário: eles foram coletados e organizados de modo a evidenciar que o presente ensaio está em conformidade com os ensinamentos contidos na obra de Abdruschin.
Sempre que a palavra “dissertação” é mencionada, o autor está se referindo à Mensagem do Graal. No final dos trechos destacados, aparece o respectivo título da dissertação entre parênteses.
No ano de 2010, o Brasil foi palco de uma notícia pouco divulgada mas que repercutiu em todo o mundo… da botânica! Botânicos surpreendidos do mundo inteiro voltaram de pronto seus olhos para o país naquele 19 de dezembro, pois nada menos do que uma Titan Arum acabara de florescer.
Tratou-se de um evento muito raro. Pela primeira vez, a maior flor do mundo florescia em terras tupiniquins, mais precisamente no Jardim Botânico da cidade de Brumadinho, em Minas Gerais. O último registro de desabrochamento de uma dessas no mundo havia ocorrido em julho daquele mesmo ano, no Japão.
A Titan é originária das florestas tropicais de Sumatra, a maior ilha da Indonésia. A semente leva de 10 a 12 anos para germinar, dando origem a uma flor com cerca de três metros de altura e peso aproximado de 20 quilos. As partes correspondentes às pétalas podem atingir até cinco metros de comprimento. A planta floresce, no máximo, três ou quatro vezes ao longo de seus presumíveis 40 anos de vida, e cada floração dura em média apenas três dias. A Titan Arum é mesmo um acontecimento.
Ao ver esses dados, desejei conhecer o oposto da Titan, isto é, a possível “menor flor” do mundo. De fato, ela existe, e exatamente com este título, sendo também bastante conhecida pelos botânicos. Trata-se da Wolffia angusta, do tamanho equivalente ao da cabeça de um alfinete. Muitas dezenas de Wolffias cabem na ponta do dedo mínimo. E essas microflores ainda são capazes de produzir o menor fruto do mundo: o “utrículo”.
Então temos aqui dois exemplares do reino vegetal bem distintos entre si: a Titan e a Wolffia.
Quem precisa de pelo menos quatro dedos da mão para contar as décadas que tem de vida, há de ter aprendido, de maneira bem singela, que a natureza se divide em três reinos: mineral, vegetal e animal. Essa concepção mudou bastante nos últimos tempos. Só para organismos multicelulares há agora três reinos, e mais dois para os unicelulares. Isso, de acordo com uma das divisões aceitas, porque atualmente há várias outras, todas muito bem consideradas e estudadas, para desespero dos estudantes secundaristas. Algumas dessas divisões estabelecem “super-reinos”, “domínios” e “superdomínios”.
Para a nossa simples abordagem vamos considerar apenas a existência do grande reino vegetal e as divisões abaixo dele, que aparentemente ainda contam. Assim, segundo a classificação geral do grande grupo dos vegetais, abaixo da categoria reino seguem-se níveis cada vez mais restritos, até atingir a espécie propriamente dita de uma planta. A grosso modo, a sequência é a seguinte: reino, divisão, classe, ordem, família, gênero e espécie.
A Titan e a Wolffia pertencem ambas ao reino vegetal, mas também pertencem ao mesmo nível seguinte: a divisão, porque esta caracteriza as plantas produtoras de flores, e as duas produzem as suas. No entanto, elas já se distinguem no nível seguinte, o da classe. Se fôssemos comparar qualquer uma dessas flores com uma sequoia, por exemplo, veríamos que elas se igualariam apenas no primeiro nível, o do reino, já se diferenciando no nível seguinte, o da divisão. A sequoia, sendo uma “conífera”, não produz flores, mas sim pinhas, que atuam como estruturas reprodutoras.
Utilizando o reino vegetal como analogia para o reino espiritual, poderíamos considerar que os seres que habitam os planos espirituais do Paraíso equivalem a vários tipos de flores, de tamanhos e formas diferentes, segundo o grau de desenvolvimento de cada um, desde Wolffias até Titans. Todos os que lá vivem e atuam são espíritos humanos, porém com degraus de evolução distintos.
“A região de vossa possibilidade de conscientização como um espírito humano é, sim, estritamente limitada em direção às alturas luminosas, mas nem por isso pequena. Dá-vos lugar para toda a eternidade e com isso também, respectivamente, grandes campos de ação.
Sem limites para vós é somente a possibilidade de vosso desenvolvimento, que se mostra no crescente aperfeiçoamento de vossa atividade dentro desses campos de ação. Observai, portanto, muito bem, o que aqui vos anuncio:
O progresso de vosso aperfeiçoamento na atuação espiritual é absolutamente ilimitado; a esse respeito não existe fim. Podereis ficar cada vez mais fortes nisso e com esse tornar-se mais forte ampliar-se-á sempre, também, automaticamente, o campo de atuação, mediante o que encontrareis paz, alegria, felicidade e bem-aventurança.”
(Vê o que te é útil!)
Já os espíritos que vivem nos mundos acima do Paraíso, no chamado reino espírito-primordial, poderiam ser relacionados, por exemplo, a sequoias nesta nossa analogia. A única característica comum entre eles e os que habitam as regiões do Paraíso, situado mais abaixo, é que são espíritos, porém ambas as espécies são de constituição diversa desde a base. Usando a analogia do reino vegetal, ambos já se distinguem, portanto, na divisão, o segundo nível de classificação.
Ao estudarmos a Mensagem do Graal, verificamos que nós, seres humanos terrenos, viemos originariamente do reino espiritual — o Paraíso —, porém de sua parte mais inferior, onde existem apenas germes espirituais ainda inconscientes, as sementes de futuros seres humanos.
As sementes espirituais podem vir a se tornar seres humanos espirituais autoconscientes, depois de adquirirem as vivências para isso necessárias em suas vidas dentro dos reinos da matéria. As vivências fazem germinar a semente espiritual, assim como a água e os nutrientes do solo fazem germinar uma semente em nosso planeta. Porém, mesmo atingindo a mais elevada perfeição na evolução espiritual, o que possibilita à criatura humana desenvolvida reingressar conscientemente no reino espiritual, o Paraíso, mesmo assim, ela não será mais do que uma gradação tornada forma de irradiações superiores, uma cópia das verdadeiras “imagens de Deus” mencionadas na Bíblia, que são espíritos primordiais, que vivem e atuam em planos acima do Paraíso. Ela poderá chegar lá como uma Wolffia e desenvolver-se continuamente até uma Titan, ou mais ainda, pois o limite do espiritual humano encontra-se acima dele e não para os lados. Dentro do mundo espiritual que lhe cabe, o ser humano espiritual poderá desenvolver-se cada vez mais, sem nenhuma restrição. Contudo, nunca chegará a ser uma sequoia, pois esta, alegoricamente falando, encontra-se num plano espiritual superior. Nessa analogia, as sequoias são as verdadeiras imagens do onipotente Criador, enquanto que as espécies que podem viver e florescer no Paraíso são cópias dessas imagens.
Enquanto estivermos vivenciando e aprendendo em planos abaixo do Paraíso, como aqui nessa Terra, dentro do processo de aperfeiçoamento contínuo da autoconsciência individual, ainda não somos nem mesmo uma cópia de uma imagem do Criador, mas, no máximo, o rascunho de uma cópia. Não somos nem uma Wolffia ainda. No atual estágio de nossa evolução aqui na matéria não somos mais do que uma inacabada gradação espiritual em processo de desenvolvimento, com vistas a atingir futuramente uma gradação mais aperfeiçoada. Nossa forma humana espiritual não está ainda totalmente pronta e acabada, ao contrário, ela encontra-se presentemente moldada de acordo com nosso atual grau de conscientização; prosseguindo no processo de desenvolvimento à medida que evoluímos espiritualmente. Somente no reino espiritual seremos finalmente cópias concluídas das previamente existentes imagens de Deus. Cópias que podem tonar-se mais e mais aperfeiçoadas, num aprimoramento sem fim, porém permanecendo sempre apenas cópias.
“No fundo, um germe espiritual permanece sempre individual. Com a conscientização do germe espiritual em sua peregrinação através da Criação posterior, isto é, da cópia automática da Criação propriamente, adquire, como já disse diversas vezes, as formas humanas que conhecemos, de acordo com a gradação de sua conscientização, as quais são cópias das imagens de Deus, dos primordialmente criados.”
(Sexo)
“Apenas os seres criados são imagens de Deus. São os primordialmente criados, espíritos primordiais naquela verdadeira Criação, da qual tudo o mais pôde se desenvolver. Nas mãos desses encontra-se a direção suprema de todo o espiritual. São os ideais, modelos eternos para a humanidade inteira. O ser humano terreno, porém, só pôde desenvolver-se como cópia dessa Criação constituída. Do pequenino germe espiritual inconsciente até uma personalidade autoconsciente.
Somente plenamente desenvolvido pela observância do caminho certo na Criação, torna-se cópia das imagens de Deus! Ele mesmo, de modo algum, é a própria imagem! De permeio jaz ainda um grande abismo até ele, embaixo!”
(Criatura humana)
Nossa forma espiritual pode e deve continuar se aprimorando, aperfeiçoando-se cada vez mais, até atingir a beleza e a perfeição necessárias ao ingresso no reino espiritual, no Paraíso:
“Estimulado com isso, sua alegria pelas coisas puras e elevadas tornar-se-á cada vez mais intensa e o elevará cada vez mais alto. Seu corpo de matéria fina será perpassado por essa intuição, tornar-se-á cada vez mais fino e menos denso, de modo que o fulgor do núcleo espírito-enteal irrompe cada vez mais irradiante e, por fim, as últimas partículas desse corpo de matéria fina também se desfazem como que consumidas pelas chamas, com o que então o espírito humano perfeito, consciente e personalizado, está apto a transpor, em sua espécie totalmente espírito-enteal, os limites do espírito-enteal.”
(As regiões da Luz e o Paraíso)
Do germe inconsciente até uma personalidade autoconsciente de um espírito humano perfeito… Um longo caminho que cada um deve desbravar por si, uma longa jornada que cada qual deve percorrer sozinho!
O industrial americano Charles Schwab (1862 – 1939) costumava dizer que “a personalidade é para o ser humano o que o perfume é para a flor.” É uma boa analogia, porque não só os perfumes emanados das flores são diferentes, como elas próprias se distinguem em muitos aspectos. Assim acontece também com os espíritos humanos, cujas personalidades vão se formando e se robustecendo pouco a pouco em suas muitas vidas no aquém e no além. Cada um molda por si e para si a sua própria personalidade, sua autoconsciência, através das vivências por que passa. E essa personalidade moldada será sempre útil e benéfica caso tenha sido formada em consonância com as leis naturais. As personalidades humanas não são iguais e nem seria desejável que fossem. A pluralidade de formas e perfumes das flores é que alegra o ambiente e enfeita a vida.
Como tudo na Criação emite irradiações, assim também as emitem as sementes ou germes espirituais. Na verdade, cada corpo, em qualquer plano da Criação, é um ponto de transformação das irradiações que lhe deram origem. Aqui na Terra de matéria grosseria também é assim, seja esse corpo originado do reino mineral, vegetal ou animal.
A semente espiritual, pois, também emite continuamente irradiações. Ela igualmente vai “brotando” aos poucos, à medida que começa a aprender mediante as múltiplas vivências proporcionadas pelas vidas nos reinos da matéria, tanto no aquém como no além, que sobre ela atuam como o Sol, a chuva e o solo com seus compostos nutritivos sobre as sementes de plantas terrenas. Essa contingência promove a germinação da semente espiritual, expandindo-a e dando a ela paulatinamente a forma de um ser humano espiritual, forma esta que vai se tornando cada vez mais definida e bela à medida que aumenta a própria autoconscientização no sentido certo.
“O espírito do ser humano terreno já traz tudo em si no germe espiritual e precisa apenas desenvolver-se para a conscientização.”
(O círculo do enteal)
O processo é muito parecido com o germinar de uma semente na terra. Aliás, nem poderia ser diferente, porque tudo na obra da Criação são propriamente repetições de processos que se efetivam de degrau em degrau nos respectivos planos, segundo leis primordiais. Apenas a forma muda, porque essas leis atuam ajustadas ao respectivo plano, embora sejam sempre as mesmas leis.
Aqui na Terra, a lei do desenvolvimento permanente estipula o germinar e o crescer de uma planta, que por fim se transforma numa bela e forte árvore, apta a beneficiar o respectivo plano da Criação com sua sombra, suas flores e seus frutos. Em O Nascimento da Terra, Roselis von Sass diz que a palavra Terra significa “campo de desenvolvimento”. Na nossa analogia com o reino vegetal, temos desde árvores imensas e imponentes, com mais de cem metros de altura, até musgos menores que um centímetro. Se imaginarmos as árvores mais majestosas simbolizando os primeiros espíritos que tomaram forma, em planos acima do Paraíso, e que nunca precisaram encarnar-se na Terra — as verdadeiras “imagens de Deus” —, então os espíritos humanos, quando plenamente desenvolvidos, em seu retorno à pátria espiritual, poderiam ser comparados, como dito, em seus estágios iniciais de desenvolvimento nas regiões do Paraíso, à minúscula Wolffia.
A analogia com o reino vegetal, com suas sementes e respectivos desenvolvimentos, torna-se bastante elucidativa porque também o ser humano se origina de uma semente. Uma semente espiritual, que igualmente germina nos mundos materiais, por meio de vivências, podendo por fim produzir o fruto dela esperado: um espírito humano completo, capaz do mesmo modo de beneficiar multiplamente a Criação da qual se originou.
O que é, aliás, uma semente? Semente, por definição, é um óvulo maduro contendo um embrião, cuja finalidade é garantir a sobrevivência desse embrião e, assim, da espécie que lhe deu origem. Não parece familiar?… Mesmo o nosso corpo terreno se originou também de uma semente, chamada “zigoto”, que nada mais é do que uma célula embrionária. Envolto em nutrientes e submetido a condições propícias, recebendo estímulos o tempo todo, o minúsculo zigoto acaba dando origem ao corpo humano.
A semente de uma planta é igualmente uma cápsula contendo um embrião em vida latente, o qual, dependendo das condições ambientais, poderá vir a se tornar uma planta vigorosa ou até mesmo uma frondosa árvore. A semente é, portanto, um invólucro que encerra perspectivas. Quando as condições externas se tornam favoráveis, o processo de metabolismo tem início e a semente germina, ou seja, torna-se apta a crescer e desenvolver-se. Essas condições externas são basicamente água em quantidade certa, oxigênio e temperatura adequada. A germinação de uma planta é, portanto, o processo inicial de crescimento de uma semente ou esporo, sob condições propícias de desenvolvimento. Falando um pouco mais tecnicamente, a umidade provoca o inchaço da semente vegetal, chamado embebição, permitindo a entrada de oxigênio que, direcionado às células embrionárias, provoca reações metabólicas que mobilizam as reservas energéticas contidas numa determinada parte da semente, chamada endosperma. Essas reservas energéticas, por sua vez, são utilizadas pelo embrião em desenvolvimento. Somente depois de surgirem as raízes, é que a semente brotada passa a fazer uso dos nutrientes do solo.
A semente de um espírito humano é igualmente uma cápsula de perspectivas, de grandes perspectivas, que encerram uma promessa, pois ela pode vir a gerar um espírito humano completo, plenamente consciente de si e do mundo em que vive.
“Cada um desses germes espirituais contém em si as mesmas faculdades, visto promanarem de um espírito, e cada uma dessas faculdades encerra uma promessa cujo cumprimento se realiza incondicionalmente, tão logo a faculdade seja desenvolvida. Mas somente então! Essa é a perspectiva de cada germe na semeadura. No entanto…!”
(O ser humano e seu livre-arbítrio)
Se os germes espirituais promanam de “um espírito”, então não podem trazer nada de divino em si, pois esse “espírito” é uma obra do Espírito Santo, a vontade de Deus que atua na Criação. O “espírito”, a obra, não é uma parte do próprio Espírito Santo.
“O Espírito Santo criador, isto é, a vontade viva de Deus, não foi absorvido por sua Criação. Tampouco lhe cedeu uma parte de si mesmo, pelo contrário, permaneceu inteiramente fora da Criação. Isso a Bíblia esclarece nitidamente com as palavras: “O Espírito de Deus pairava sobre as águas”, não o próprio Deus em pessoa! Isto, pois, é muitíssimo diferente. Por conseguinte, o ser humano também não contém dentro de si nada do próprio Espírito Santo, mas sim somente do espírito, que é uma obra, um ato do Espírito Santo.”
(Erros)
A possibilidade de desabrochamento está contida no germe espiritual, assim como está também contida numa semente terrena. Quando depositado num solo adequado, constituído de uma matéria diferente da que vemos, mais fina, e submetida a influências externas, a semente espiritual humana igualmente “brota” naquela região, dando origem, por fim, a uma forma humana espiritual. Tal processo requer bastante tempo, pois as influências que promovem a lenta conscientização do germe espiritual são as vivências que ele experimenta em suas vidas no aquém e no além. São esses os “nutrientes” de que a semente espiritual necessita para poder desenvolver suas dádivas latentes.
“Assim como em relação ao grão de trigo, todo o misterioso e verdadeiro formar se processa na terra necessária para isso, do mesmo modo o formar principal de um germe espiritual se dá dentro da matéria em geral. —”
(Eu sou a ressurreição e a vida; ninguém chega ao Pai, a não ser por mim)
“Somente no campo de cultivo da matéria é que tal semente do espírito consegue amadurecer, tornando-se espírito humano autoconsciente, igual ao grão de trigo que se desenvolve no campo de cultivo numa espiga madura.”
(Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!)
O núcleo da semente espiritual, porém, permanece irradiando dentro do espírito humano que está tomando forma a partir do desenvolvimento externo dessa mesma semente. Esse núcleo é uma dádiva do Amor divino que cada semente espiritual recebeu em sua saída do Paraíso. Incandescido pela irradiação do Amor, esse núcleo irradiante pulsa no corpo espiritual, à semelhança do coração no corpo físico.
Assim, ao final de um longo processo de conscientização surge uma nova criatura plenamente desenvolvida: um espírito humano completo, totalmente consciente de si e da Criação da qual se originou, munido de órgãos espirituais e de um coração espiritual irradiante, impulsionado por um amor e uma gratidão imensos, incondicionais, ao Criador e a tudo quanto foi criado.
Um tal espírito plenamente desenvolvido se sentirá de imediato devedor em relação a seu Deus, que o presenteou tão ricamente com a vida consciente. E ele é, de fato, um devedor, um eterno devedor, que mediante atividade alegre e produtiva, poderá colaborar doravante e para sempre no aperfeiçoamento dos mundos situados abaixo do plano espiritual, do Paraíso, que é agora sua Pátria definitiva. Ele procura assim, com essa atividade cheia de gratidão em prol do desenvolvimento progressivo da Criação, dar uma pequena parcela de retribuição, um mínimo de compensação ao Todo-Poderoso pela Sua inconcebível bondade. Esse espírito humano desenvolvido nunca vai poder saldar completamente a sua dívida, ao contrário, permanecerá sempre um eterno devedor do Onipotente. Contudo, a movimentação contínua de todo o seu ser, pleno de gratidão e agindo exclusivamente dentro da vontade do Altíssimo, lhe permite usufruir uma vida consciente e produtiva por toda a eternidade.
“Quem se submete de bom grado às leis, age sempre com acerto! Com isso prova seu respeito pela sabedoria de Deus, curva-se jubiloso à Sua vontade que reside nas leis. Dessa forma vem a ser auxiliado e protegido pelos seus efeitos, libertado de todo sofrimento e soerguido para o reino luminoso espiritual, onde se torna visível a cada um, sem turvação, a onisciência de Deus em jubiloso vivenciar, e onde a adoração a Deus consiste na própria vida! Onde cada respiração, cada intuição, cada ação se apoia na mais alegre gratidão e assim permanece como um constante prazer. Nascido da felicidade, semeando felicidade e, por isso, colhendo felicidade!”
(Adoração a Deus)
Voltemos ao germe espiritual. Quando a semente proveniente do reino espiritual mergulha nos reinos da matéria para colher as vivências de que necessita, seus invólucros materiais e enteais já foram moldados, trazendo de antemão a forma humana. Isso ocorre devido à irradiação própria e inata, inconsciente até então, dessa semente sobre seus invólucros mais externos. Entretanto, a forma humana espiritual só vai surgir com a irradiação da semente espiritual já se tornando consciente pelas vivências, forma esta que vai ficando cada vez mais definida quanto mais avança o processo de autoconscientização. Antes do surgimento da forma humana espiritual, o germe em desenvolvimento ainda não pode ser considerado um ser humano
“Enquanto o espírito humano possuir somente uma consciência do existir, tem de conservar o nome de germe espiritual, mesmo se o seu invólucro já puder ter forma humana. Só com o desenvolvimento progressivo para a autoconsciência é que ele cessa de ser germe espiritual humano e se torna espírito humano!”
(Germes enteais)
“Aquilo que não tem a forma básica humana, não pode ser denominado ser humano. Um germe espiritual, por exemplo, em seus respectivos degraus de desenvolvimento não é ainda um ser humano, mas não teria formas tão divergentes como as que são descritas pelos nocivos fantasistas.”
(Evitai os fariseus!)
E se um ser humano, por algum motivo, deixa obscurecer seu espírito a tal ponto que sua forma espiritual não se torne mais reconhecível, então ele também não pode mais ser considerado um ser humano:
“São encontradas na matéria grosseira mediana e fina dos planos escuros e mais escuros formas fantásticas com rostos humanos, que se assemelham a animais, as quais correspondem sempre às espécies nas quais um espírito humano pensou e atuou na Terra, mas essas formas são produzidas geralmente apenas através do pensar humano. Têm temporariamente o rosto daquele ser humano que as gerou, porque descendem dele como produtos de sua mente.
E se um ser humano chegou mesmo a tal ponto, que fica literalmente absorvido pelo ódio ou pela inveja e outras paixões nocivas, acontece-lhe então que fora da gravidade terrestre se forma em redor de seu espírito um tal corpo. Com isso, porém, perdeu também todos os direitos de ser uma criatura humana, de maneira que também não deve nem pode ter mais semelhança com a forma das cópias das imagens de Deus. Na verdade ele não é mais um ser humano, mas decaiu para algo ainda desconhecido do ser humano terreno e por isso ainda não pôde ser designado por nenhum nome. —”
(Evitai os fariseus!)
O ser humano pode então deixar de ser um “ser humano” se decair muito, a ponto de sua forma espiritual não mais se tornar reconhecível pela condensação de um corpo fino-material corrompido sobre ela. Quando, por exemplo, ao se deparar com um crime hediondo, alguém comenta “não entender como um ser humano é capaz de tal coisa”, está na realidade dizendo algo muito verdadeiro.
No entanto, não é somente dessa maneira que um ser humano pode deixar de sê-lo, isto é, não poder mais ser considerado um ser humano. Não é preciso que decaia desse modo para que deixe de ser um ser humano verdadeiro. Basta não permitir a seu espírito atuar como previsto, que é a sua principal missão na Criação (além de ser uma contingência necessária ao desenvolvimento do próprio espírito), para que um ser humano que já tenha atingido um nível de autoconsciência não possa mais ser considerado um ser humano genuíno.
“Através da Mensagem, porém, já sabeis que tão somente esse espírito faz do ser humano um ser humano, que o ser humano apenas através dele pode se tornar ser humano!
Isso, por sua vez, vos dá a prova de que hoje todas as criaturas terrenas que mantêm preso o espírito também não podem ser consideradas pela Luz como seres humanos!
O animal nada tem do espírito, por isso também nunca pode tornar-se ser humano. E o ser humano que enterra o seu espírito, impedindo-o de atuar, exatamente aquilo que o torna um ser humano, ele, na realidade, não é um ser humano!
Aqui chegamos ao fato que ainda não tem sido suficientemente observado: eu digo que o espírito cunha o ser humano, tornando-o um ser humano. Na expressão “tornar ser humano” encontra-se a indicação de que somente em sua atuação o espírito transforma a criatura em ser humano!
Não basta, portanto, trazer dentro de si o espírito para ser um ser humano, mas sim uma criatura só se torna ser humano, quando deixa atuar dentro de si o espírito como tal!”
(Alma)
Por fim, o ser humano também pode deixar de sê-lo caso sua forma espiritual seja extinta na chamada morte espiritual, a condenação eterna, que corresponde à “segunda morte” mencionada no livro do Apocalipse (Ap2:11; 21:8). A condenação eterna consiste na extinção definitiva da já angariada forma espiritual humana, que se decompõe, desaparecendo assim também para sempre a consciência do “eu” espiritual, visto que essa forma só pôde surgir com o paulatino desenvolvimento da consciência. Certamente não é preciso esclarecer quão horrível é esse acontecimento. Dessa possibilidade podemos nos distanciar cada vez mais na exata medida dos nossos esforços em viver em conformidade com as leis que governam a Criação.
A conscientização é a formação propriamente do espírito humano, o “eu” de cada um de nós. Só estamos aptos a sentir hoje, de modo claro, esse “eu” como sendo realmente a nossa essência, porque nos tornamos espíritos humanos desenvolvidos, ainda que não tenhamos chegado ao final do processo de autoconscientização. Pois se estamos na Terra é porque o desenvolvimento de nosso espírito, do nosso “eu”, ainda não está concluído. Só com o resultado de múltiplas vivências no aquém e no além — que se fundem no reconhecimento e na mais plena convicção da indesviável atuação das leis naturais — é que um espírito humano atinge, por fim, através de sua vontade e esforço próprios, um grau de perfeição tal que lhe permite reingressar no Paraíso de modo consciente. Esse processo independe das crenças em que foi educado e sob as quais viveu na Terra. Entrará no Paraíso se adquirir a pureza consentânea a esse reino espiritual.
“Esforçai-vos, criaturas humanas terrenas, para poder ingressar plenamente maduras no reino do espírito!”
(Germes espirituais)
O lento processo de formação e aperfeiçoamento do espírito humano, assim como da própria Criação, é semelhante ao da modelagem de pensamentos pela fusão de ideias análogas:
“Assim como a fusão, no caso dum único pensamento, forma, amolda e lapida, assim se dá com o próprio ser humano e com toda a Criação, que na interminável fusão de formas individuais existentes passa por transformações, devido à força de vontade, tornando-se assim o caminho para a perfeição.”
(O silêncio)
No início da dissertação “A criação do ser humano”, Abdruschin alude à imagem bíblica da criação e vivificação do ser humano através do “sopro” de Deus:
“ ‘Deus criou o ser humano segundo a Sua imagem e soprou-o, animando-o com o Seu alento!’ Trata-se de dois acontecimentos: o criar e o vivificar!”
As influências que determinam o processo de germinação das sementes espirituais assemelham-se realmente a um hálito de vida proveniente do Criador, a Origem e Fonte de toda a vida, conforme descrito no livro do Gênesis: “Ele insuflou em suas narinas o hálito da vida, e o homem se tornou um ser vivo” (Gn2:7). Depois de criado pela vontade de Deus, o homem é então vivificado pelo sopro do Criador, que o anima com Seu alento. É nesse sentido que se insere, por exemplo, o depoimento da personagem Eliú, amigo de Jó, transcrito no livro bíblico de mesmo nome: “O Espírito de Deus me criou, e o sopro do Todo-Poderoso me deu a vida” (Jó33:4).
Esse “hálito” de Deus, que concede a vida, é pleno de amor por Suas criaturas, conforme atesta Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final: “Amor é vida! O amor é o ‘hálito’ de Deus no Universo!” Na dissertação “O ser humano e seu livre-arbítrio”, podemos ler a seguinte informação complementar:
“Ainda que se trate dos mais delicados vislumbres que atravessam essa matéria fina como um sopro, são, pois, suficientes para despertar a vontade sensível no germe espiritual e chamar a atenção.”
No alemão, língua original em que foi escrita a Mensagem do Graal, o vocábulo traduzido na frase acima como “sopro” é Hauch, que também pode ser traduzido por “hálito”. Esse conceito também foi utilizado pela Sra. Roselis para descrever a difusão do amor do Criador dentro da Criação, capaz de provocar o despertar das sementes espirituais humanas, que lentamente, paulatinamente, formam o espírito humano consciente, o “eu” de cada um.
Contudo, esse “eu” espiritual, ainda em processo de desenvolvimento na materialidade, já traz consigo a capacidade de gerar formas, em gradações naturalmente mais baixas (como mais um ponto de transformação das irradiações que lhe deram origem), quer sejam elas provenientes da intuição — providas de um núcleo enteal impulsionador — quer sejam geradas pela atividade do cérebro terreno, mediante as formas de pensamentos. Portanto, mesmo um ser humano ainda não totalmente desenvolvido já pode contribuir para o aperfeiçoamento do plano da Criação em que vive e atua. O grau de evolução de seu espírito se evidencia pela seriedade e sinceridade com que procura conhecer a fundo a vontade de seu Criador e o esforço que emprega em pautar sua vida dentro dessa vontade, gerando, por conseguinte, apenas belas e benfazejas formas de intuições e de pensamentos.
Apesar de sermos apenas uma gradação de irradiações mais elevadas, somos capazes de gerar formas com nossos pensamentos e intuições, o que por sua vez constituem uma nova gradação para baixo. Assim, também podemos colaborar, no caso de vontade pura, para o aperfeiçoamento contínuo da Criação da qual nos originamos.
Repetindo: Tão somente as múltiplas vivências proporcionadas pelas várias vidas no aquém e no além dos reinos materiais é que permitem a formação do espírito humano, oriundo da semente espiritual, cujo núcleo mais intrínseco, continua, como centelha espiritual, cintilando dentro dele, à semelhança de um coração. Unicamente o que é vivenciado, o que é efetivamente experimentado, se torna algo próprio, pessoal, individual, contribuindo para a formação, amadurecimento e evolução do espírito humano.
Por isso, as vivências são tão importantes, sejam elas de dor ou alegria. E por isso, também, é importante viver plenamente no presente, sem se perder exclusivamente em lembranças do passado e devaneios do futuro, pois do contrário não há um real vivenciar do espírito.
“Feliz daquele que pode denominar tantas e tão fortes vivências como sendo suas, quer tenham sido de alegria ou de dor suas origens, pois essas impressões serão um dia o que de mais valioso uma alma humana levará consigo em seu caminho para o Além. —”
(Era uma vez…!)
“Se não vivencia, também não poderá amadurecer, pois o amadurecimento depende, exclusivamente, do vivenciar.
Se, pois, não tiver sempre vivenciado em si o presente na existência terrena, voltará vazio e terá de percorrer mais uma vez o tempo assim perdido, porque não esteve aí alerta, não tendo se apropriado de nada através de vivência.”
(Vivei o presente!)
Quando estudávamos ciências na escola, a melhor parte eram as aulas de laboratório, muito mais divertidas e instrutivas do que as teóricas. Em muitos cursos superiores, a parte prática da disciplina também tem grande importância, ajudando a sedimentar o que foi ministrado nas aulas teóricas expositivas. Para o aprendizado escolar, a experiência é, pois, de grande importância. Na escola da vida não é diferente. Apenas não devemos dizer “aprendizado”, e sim assimilação. O que é aprendido fica adstrito ao âmbito terreno, não seguindo conosco quando passamos para os mundos do além. Só o que é assimilado na alma levamos conosco depois da morte, ao passo que o aprendido fica para trás.
E mesmo esse aprendido é uma parcela muito pequena de tudo o que nos foi ensinado ao longo da vida. “A imensa maioria de tudo aquilo que aprendemos, de todas as inúmeras memórias que formamos na vida, se extingue ou se perde”, diz o neurocientista Dr. Iván Izquierdo. E acrescenta: “Temos mais memórias extintas ou quase extintas no nosso cérebro do que memórias inteiras e exatas, e é fácil demonstrá-lo: basta pedir a qualquer um que relate tudo o que aconteceu no ano passado ou no dia de ontem. Podemos fazê-lo em poucos minutos.”
Apenas o que foi assimilado na alma, o que nela deixou uma marca indelével, tornou-se coisa efetivamente nossa, que levamos, sim, para o outro lado, como único substrato e lucro da vida terrena. É este o “lucro” ou os “juros” da aplicação dos talentos, de que nos fala uma das mais significativas parábolas de Jesus (http://on.fb.me/1b1XenR). Quando deixarmos essa Terra, levaremos tudo o que somos e deixaremos tudo o que temos. Levaremos uma personalidade lapidada por vivências, deixando para trás não somente bens, mas também tudo o que foi simplesmente estudado, memorizado e decorado.
Contudo, o longo processo de conscientização humana através de vivências não ocorre ao mesmo tempo para todos. Ao contrário, cada qual segue pelos seus próprios caminhos de escolhas pessoais, o que faz com que a conscientização se consolide em mais ou menos tempo, dependendo do caso. As sementes das plantas também brotam e evoluem em velocidades diferentes, dependendo das condições ambientais.
Visto de cima, as sementes humanas percorrem caminhos mais retos e diretos de volta ao reino espiritual, ou mais longos e deslocados, como arcos de parábolas, dependendo de suas escolhas. Quanto mais um espírito em desenvolvimento procurar compreender direito a vontade de seu Criador, esforçando-se em vivê-la e cumpri-la em todas as situações da vida, tanto mais próximo seu caminho de retorno estará de um eixo reto ascendente, previsto para quem mantém o livre-arbítrio espiritual liberto, o qual escolherá sempre o caminho mais curto e mais rápido para o alto.
Em contrapartida, quanto mais erros e falhas o espírito humano em evolução cometer pelo desvio voluntário em relação às leis estabelecidas pelo Criador, que traduzem a Sua vontade, tanto mais demorado será o processo de retorno ao Paraíso (porque demandará muito mais reencarnações do que as dez inicialmente previstas), e tanto mais afastado daquele eixo diretamente voltado para cima será também o percurso por ele trilhado. E se esse espírito se afastar demais da vontade de seu Criador, sem se importar em conhecê-la, agindo em sentido contrário às leis que Ele inseriu na Criação, não obstante os graves efeitos retroativos oriundos de seu carma pessoal, então seu pretendido caminho de volta poderá se afastar tanto do eixo retilíneo preconizado por essas leis, que ele acabará se perdendo para sempre, sem poder mais retornar. Afundará para mundos lúgubres, em decorrência da lei da gravidade espiritual, e nunca mais poderá regressar como espírito autoconsciente à Pátria espiritual. Desse modo, não lhe será permitido completar o curso de desenvolvimento previsto para ele, por culpa dele mesmo. Numa tal situação, o abortado processo de evolução equivale a uma semente de planta que não chegou a vingar, ou que brotou tão fracamente que não conseguiu se desenvolver.
“Visto que um circuito, de acordo com as leis que a vontade de Deus-Pai coloca na Criação, só pode ser considerado concluído e cumprido quando no seu final volta à origem, assim também o curso de um espírito humano só pode ser tido na conta de cumprido quando regressa ao espiritual, já que sua semente saiu dali.
Deixando-se desviar em direção às trevas, incorrerá no perigo de ser arrastado para além do círculo mais externo de seu curso normal, às profundezas, donde então não poderá mais reencontrar a escalada.”
(O mistério Lúcifer)
No processo de evolução espiritual, somente é assimilado na alma, como dito, aquilo que foi de fato experimentado, vivenciado. Por isso, as vivências, sejam de alegria ou de dor, são degraus preciosos na evolução espiritual, desde que, obviamente, o espírito em questão reconheça através delas a efetivação das leis que regem a Criação, à qual ele mesmo pertence como criatura formada numa determinada gradação.
Tudo o que existe fora do Criador é constituído de formas inconscientes ou conscientes, com ou sem vontade própria, em gradações subsequentes. Nós mesmos, criaturas humanas, não somos mais do que uma simples gradação, ocupando um degrau específico (e bem pequeno) no conjunto da obra da Criação. Somos seres com vontade própria, providos da capacidade de gerar outras formas através de nosso atuar, pensar e intuir, em novas gradações descendentes. Numa visão mais ampliada, somos formas que geram outras formas.
Em linhas gerais, podemos dizer que o corpo físico da forma denominada “ser humano terreno” é o invólucro de sua alma, e que a alma é o invólucro do espírito. Há ainda um invólucro ou ponte de ligação entre o corpo físico e a alma, a que chamamos de “corpo astral”, constituído de matéria grosseira mediana.
Com exceção da criatura humana terrena, que ainda possui seu corpo físico, o espírito humano envolto em seus vários invólucros (cuja quantidade depende do plano da Criação em que ele se encontra) é chamado simplesmente de “alma”. Somente depois de despir todos os seus sete invólucros é que ele pode ser chamado realmente e unicamente de “espírito humano”. Abdruschin esclarece essa circunstância na dissertação “Alma”:
“Por isso também nada se altera, quando o ser humano terreno deixa o corpo de matéria grosseira. É, então, ainda o mesmo ser humano, apenas sem invólucro de matéria grosseira, com o qual fica também o assim chamado manto astral, que foi necessário para a formação do corpo terreno de matéria grosseira, e o qual se origina da matéria grosseira mediana.
Tão logo o pesado corpo terreno estiver desprendido junto com o corpo astral, o espírito continua envolto apenas com os invólucros mais delicados. Nesse estado o espírito é então chamado ‘alma’, para diferenciação do ser humano terreno em carne e sangue!
Na progressiva ascensão o ser humano também abandona, pouco a pouco, todos os invólucros, até que por fim conserva apenas o corpo espiritual, com um invólucro espiritual, e assim entra como espírito sem invólucros de outras espécies no reino do espírito.
(…)
Na realidade, no ser humano somente entra em cogitação o espírito. Todas as outras denominações se orientam simplesmente de acordo com os invólucros que ele traz.
O espírito é tudo, é o essencial; portanto, o ser humano. Trazendo com outros invólucros também o invólucro terreno, então se chama ser humano terreno; abandonando o invólucro terreno é considerado então pelos seres humanos terrenos como alma; abandonando ainda os invólucros delicados, então ele permanece unicamente espírito, que sempre foi em sua espécie.
(…)
A alma é o espírito já desligado da matéria grosseira, com invólucros finomateriais e também enteais.
Ele tem de permanecer para a vossa conceituação tanto tempo alma, até tirar de si o último invólucro e estar apto a entrar, como sendo somente espiritual, no reino espiritual.”
Os corpos com que o espírito se envolve — poderíamos dizer também mantos com os quais ele se reveste — não ficam acaso apenas encaixados uns sobre os outros, mas são conectados entre si por cordões de ligação, à semelhança do cordão umbilical no recém-nascido.
O corpo astral está estreitamente ligado ao corpo físico. Permanece ligado a este por um cordão quando a alma, dentro dele, deixa o corpo durante o sono, para colher vivências no mundo astral, ou seja, nas planícies de matéria grosseira mediana.
Essas planícies são as regiões onde a alma ingressa por primeiro, após o desenlace terreno. Lá se encontram também os locais formados pelos frutos das emanações mais densas do ser humano, isto é, de suas ações. A matéria grosseira mediana, ou mundo astral, envolve estreitamente a Terra de matéria grosseira, porque esta se originou daquela, como um sedimento mais pesado. O mundo astral surgiu antes da formação grosso-material da Terra; ele é o modelo de tudo quanto existe na esfera material grosseira a nós visível. Nesse mundo astral ficam retidas as almas “presas à Terra”, devido a alguma ação deletéria na época em que estavam encarnadas ou devido a algum vício ou acentuado pendor por prazeres terrenos.
“Assim também acontece com satisfação sexual, com bebidas, sim, até com predileção especial por comidas. Igualmente neste caso muitos estão presos por causa dessa predileção, de vasculhar por adegas e cozinhas, a fim de coparticipar através de outrem do saborear das comidas e pelo menos poder sentir uma pequena parte do prazer.”
(Preso à Terra)
Se após a morte, a alma consegue logo adentrar no plano de matéria grosseira mediana formado pelas suas ações, sem precisar antes permanecer presa à Terra, ela lá permanecerá de modo a vivenciar tudo o que provocou com seus atos enquanto estava encarnada na Terra. Só depois de extinto pelo vivenciar e pelo reconhecimento do que foi certo e do que foi errado em suas ações na Terra, é que a alma consegue prosseguir em seu caminho ascensional até a parte fina da matéria grosseira, onde encontra as regiões moldadas pelas suas formas de pensamento e também de suas intuições. Nessas regiões, ela permanecerá até conseguir também se libertar vivencialmente, num determinado prazo, das culpas e erros acarretados por maus pensamentos e más intuições que produziu quando vivia na Terra. Em todas essas regiões ela é obrigada a colher integralmente o que semeou e que ainda não havia sido remido enquanto vivia em carne e sangue. São essas as obras que nos aguardam quando deixarmos a Terra.
“A ligação espiritual permanece firme em todas as tuas obras, pois também as obras materiais terrenas possuem, sim, origem espiritual através dos pensamentos que as geraram, e permanecem, mesmo que tudo o que é terreno tenha desaparecido. Por isso, há veracidade na expressão: ‘As tuas obras te aguardam, enquanto a prestação de contas não se der pela ação de retorno’.”
(O Silêncio)
“Evidenciar-se-á assim a exatidão do que foi dito: Pois suas obras os seguirão! As criações de pensamentos são obras que vos hão de esperar!”
(Despertai!)
“Os frutos de cada pensamento acabarão caindo sobre vós, aqui ou no Além, e tereis de usufruí-los! Ser humano algum pode fugir a esta realidade!”
(Ascensão)
“Tudo o que o ser humano, aqui na Terra, intuiu e pensou aguarda-o, e também as consequências rigorosamente justas de sua atuação.”
(Os pequenos enteais)
Pensamentos são obras que nos esperarão, assim como intuições e ações. Não é preciso esclarecer especialmente que, para a quase totalidade das pessoas, as regiões de matéria grosseira mediana e fina em que terão de ingressar após a morte, não são nada aprazíveis.
Antes do pecado original, não existiam regiões lúgubres formadas por essas espécies de matéria grosseira, moldadas pelo atuar errado e pelo mau pensar da criatura humana. A matéria fina é constituída de uma outra espécie de matéria, totalmente distinta da matéria grosseira, mas que também deverá ser percorrida por uma alma em seus caminhos ascensionais no além. Tudo isso é denominado indistintamente de “além”, que poderíamos do mesmo modo chamar de “mundo mais fino”, para diferençar da matéria grosseira absoluta que presentemente habitamos.
Continuando com o corpo astral, por ocasião da morte a alma procura se afastar desse seu invólucro de matéria grosseira mediana (que continua ligado ao corpo físico), a fim de se libertar dos liames terrenos. Enquanto perdurar o cordão de ligação da alma com o corpo astral, e deste com o corpo físico, é possível um ressuscitar do corpo terreno após a morte, tal como ocorreu no milagre efetuado por Jesus em relação a Lázaro e ao filho da viúva da cidade de Naim. Mas depois de rompido esse cordão de ligação entre a alma (cuja camada mais externa nesse momento é o corpo auxiliar de matéria grosseira fina) e o corpo astral, não é mais possível um retorno à vida no mesmo corpo terreno morto.
Jesus pôde trazer aquelas almas de volta à vida nos respectivos corpos porque elas ainda estavam ligadas a estes pelo respectivo fio ou cordão, conforme acontece durante algum tempo com todos os desenlaces terrenos. Ele as chamou de volta durante esse período de ligação, “antes que se rompesse o cordão de prata”, conforme muito bem descrito no livro bíblico de Eclesiástico (cf. Ecl12:6).
Durante o período de ligação desse cordão, que varia de pessoa para pessoa, a alma permanece conectada ao corpo terreno após a morte, através do corpo astral. Porém, depois que essa ligação se rompe é impossível um retorno à vida terrena naquele mesmo corpo. Nos dois casos mencionados essa ligação ainda subsistia, e Jesus, fazendo uso da força divina que estava nele, chamou de volta aquelas almas para seus corpos terrenos. Essa mesma força permitiu a reativação das células e dos órgãos paralisados para um perfeito funcionamento. O mesmo aconteceu na ressurreição da filha de Jairo, o chefe da sinagoga. Ao chamado do Mestre, a alma da menina voltou ao corpo e ela continuou a viver. Sobre esse episódio, o evangelista Lucas narra: “Ele, porém, tomando-lhe a mão, chamou-a dizendo: criança, levanta-te! O espírito dela voltou e, no mesmo instante, ela ficou de pé” (Lc8:55). O espírito voltou porque ainda estava ligado ao corpo através do cordão que o une à alma. Foi exatamente isso o que aconteceu.
Os antigos hebreus sabiam muito bem que a alma do falecido permanecia durante algum tempo ao lado do corpo e ligado a este; mas acreditavam que isso seguia um padrão fixo de três dias para todos, de modo que no quarto dia não poderia haver mais nenhuma esperança de um falecido retornar à vida. Por isso, a ressurreição de Lázaro causou um assombro tanto maior, visto que estava sepultado há quatro dias quando Jesus o chamou de volta à vida.
É através do caminho desses cordões de ligação que a atividade do espírito, a intuição, se faz presente e sensível para o ser humano terreno. No corpo físico, o cordão de ligação proveniente do corpo astral está ancorado no plexo solar, um agrupamento de células nervosas localizadas logo abaixo do diafragma, ligando duas glândulas na região chamadas “celíacas”. O plexo solar se subdivide em doze plexos secundários, que constituem os mecanismos interligados ao sistema nervoso.
A irradiação da intuição é sentida pelo ser humano terreno primeiramente nesse ponto de ligação da alma com o corpo, no plexo solar, o qual a retransmite então para o cerebelo. Por isso, sentimos uma pressão nessa região quando experimentamos algum abalo anímico, o conhecido “frio no estômago”. Recentemente, descobriu-se várias conexões do cerebelo para o cérebro anterior e, também, uma diretamente para a medula espinhal, que é a porção alongada do sistema nervoso central, que por sua vez está conectado às terminações nervosas do plexo solar.
Esse caminho da atuação do espírito para fora, para a matéria grosseira, e vice-versa, das impressões exteriores para o espírito, só pode se dar a partir de uma certa idade do ser humano em crescimento aqui na Terra, quando o seu corpo em amadurecimento passa a emitir uma irradiação capaz de se conectar à irradiação proveniente do espírito. Isso ocorre na época da adolescência, quando o irromper da força sexual altera a composição do sangue e, consequentemente, sua irradiação. Essa irradiação modificada do sangue possibilita a ligação com a irradiação espiritual, que chega ao corpo físico através do caminho de ligação dos vários invólucros do espírito. A partir daí, o espírito se torna capacitado a atuar plenamente na matéria, a fazer valer sua vontade nela, desde que, naturalmente, a ponte do cerebelo para o cérebro não esteja demasiadamente obstruída.
Mais uma vez se reconhece que tudo, mas tudo mesmo, está nas mãos do próprio ser humano. Unicamente ele é o senhor do seu próprio destino. Com suas palavras, pensamentos e intuições, ele fornece os fios com que o tear de Deus tece a sua sina. É sua prerrogativa inalienável es-colher o que emite, mas depois terá obrigatoriamente de colher de volta tudo o que semeou, e multiplamente aumentado.
“Assim como a colheita resulta da multiplicação de uma semeadura, da mesma forma o ser humano colherá sempre multiplicado aquilo que ele despertou e emitiu com suas próprias intuições, de acordo com a espécie de sua vontade.”
(Responsabilidade)
É unicamente o próprio ser humano, sempre e sempre apenas ele próprio, quem decide o que vai encontrar em seus caminhos de peregrino através da Criação: dor ou alegria, sofrimento ou felicidade, doença ou saúde, perdição ou salvação. Ele decide, ele planta, ele colhe.
“Aí nada adiantam simulações nem autoenganos. Terá de colher impreterivelmente aquilo que houver semeado com sua vontade! Será mesmo a intensidade maior ou menor dessa vontade que movimentará com mais ou com menos força as correntes de igual espécie de outros mundos, seja ódio, inveja ou amor. Fenômeno este inteiramente natural, da maior simplicidade e, todavia, de efeito férreo, da mais absoluta justiça!”
(Erros)
Vamos, pois, decidir com mais sabedoria e plantar somente felicidade. Agindo desse modo, colheremos unicamente bênçãos em nossas peregrinações em busca da conscientização e aperfeiçoamento do espírito.
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